Beata Isabel Picenardi, Virgem (+1468)
Leonardo Picenardi de Paula Nuvoloni, sua esposa, nobres habitantes de Mântua, deram a vida à Bem Aventurada Isabel. Mais recomendáveis ainda pela piedade do que pela ilustre posição de que desfrutava no mundo, educaram-na no temor de Deus, aplicando-se a mãe, desde cedo, a formá-la na prática das virtudes cristãs.
Muito jovem ainda, gostava Isabel de retirar-se para uma celazinha onde se mantinha oculta; lá meditava a palavra de Deus, e, evitando as diversões da mocidade, passava o tempo a orar e a se ocupar das virtudes da Santa Virgem. A única distração era ir da casa do pai à igreja de São Barnabé, onde cumpria todos os deveres de religião com angelical piedade. Procedimento tão sábio e cristão não tardou em lhe merecer a estima pública, e jovens de elevada posição social pensaram em pedir-lhe a mão de esposa.
Mas, Isabel fizera outra escolha e constantemente recusava as propostas. Do pai, logrou permissão para retirar-se para a casa de uma irmã, e de entrar na ordem terceira dos Servitas.
Foi então que a santa, após ligar-se a Deus pelo voto de castidade, iniciou novo gênero de vida ainda mais perfeito que o que levava na casa paterna. A sua prece era quase constante, e tão grande o ardor pela mortificação, que afligia constantemente o corpo com os jejuns, o cilício e outras práticas de penitência.
A meditação dos sofrimentos de Jesus Cristo e das dores da Santa Virgem exercia nela poderosos fascínio. Todos os dias, confessava-se e recebia a santa Eucaristia. Achava tamanho consolo em recitar o ofício canônico, que a ele nunca faltava.
Várias pessoas nobres, comovidas com o exemplo daquelas virtudes, pretenderam submeter-se a ela. A serva de Deus tão bem as formou para a piedade, que todas abraçaram, imitando-a, a ordem terceira dos Servitas, dando assim início a várias reuniões edificantes, frutos da caridade e do zelo de Isabel.
Vida tão pura e perfeita merecia os favores do céu; assim não tardou a jovem em granjeá-los. A Mãe de Deus, por várias vezes, lhe deu provas sensíveis da sua proteção, e todos os que escreveram a história da bem-aventurada asseguram que não havia coisa que pedisse, por intercessão de Maria, que não obtivesse imediatamente. Não somente os habitantes de Mântua, senão também os estrangeiros, estavam persuadidos daquilo; consideravam-na excelente advogada ao pé de Deus e da Santa Virgem, e chamavam-lhe comumente intermediária dos seus benefícios. As almas verdadeiramente humildes não se ofuscavam com os sinais de estima que lhes são dados e as honras que se lhe prestam. Assim foi Isabel.
Embora favorecida com os dons do céu e até com o da profecia, embora objeto de veneração dos concidadãos tinha-se na conta de nada, e não temia em falar desvantajosamente de sua pessoa, assegurando que era vil, desprezível, a mais criminosa criatura do mundo.
Perseverou até o fim da vida em tão profunda humildade. Aos quarenta anos de idade, atacou-a forte doença intestinal de que faleceu em 19 de Fevereiro de 1268. Assegura-se que tivera a ilustre ventura de conservar a graça do batismo, e a santa vida que levou bem que favorece tal opinião.
O corpo, tal qual ela própria pedira, foi levado para a Igreja de São Barnabé, onde em breve se verificaram numerosos milagres por intercessão da santa. (1)
(1) Acta SS., e Godescard, 19 de Fevereiro.
(Livro dos Santos. Padre Rohrbacher, Volume III, o. 326 à 328)