Santo Auxêncio, Abade e Confessor
Auxêncio nasceu na Síria, de pai persa, que deixou a terra natal em virtude da perseguição de Sapor. Em Constantinopla, o Santo, querido de Teodósio, o Jovem, estava agregado à 4ª Companhia de Guardas. Aspirava, contudo, o santo homem, à solidão; em 442, retirou-se para o Monte Óxia, não longe da Calcedônia, onde passou a viver afastado do comércio dos homens, vestido tão somente duma pele, tendo o céu por teto.
Ali, começou a ser visitado por pessoas curiosas ou piedosas. Para se livrar daquela importunidade subiu a montanha, e no topo, construiu uma cela, cuja porta, uma vez entrado, murou. Por uma pequena abertura, recebia a luz do dia e o alimento que almas caridosas lhe levavam. Otava, lia, jejuava, macerava-se.
Quando sentia que havia muita gente ao redor da cela, convidava-a a rezar com ele. Muitos milagres operou, então naquele rude retiro alcandorado no pico do monte.
Um dia, uma rica senhora da Nicomédia, cega, foi conduzida até o alto da montanha, ao lado da cela, e gritou ao santo homem:
- Servidor do Todo-Poderoso, tem piedade de mim,cega!
Auxêncio, comovido, respondeu-lhe, pela abertura:
- Que posso eu fazer, mulher, pobre pecador como qualquer outro homem? Contudo, se tens fé em Jesus Cristo, Ele te restituirá a vista, como ao cego de nascença. Rezemos! Rezemos juntos!
Os demais rezaram com a rica mulher e o santo homem servidor de Deus. Terminadas as orações, disse ele à cega:
- Mulher, aproxima-te de mim!
E, tocando-lhe os olhos com os dedos, sentenciou:
- Que Nosso Senhor Jesus Cristo, a verdadeira luz, te livre da escuridão! Imediatamente a rica dama da Nicomédia recuperou a vista.
Certa vez, um dos amigos de Auxêncio, que o visitava muito frequentemente, levou-lhe um homem, cético quanto à santidade do recluso. Tinha-o mesmo na conta de um impostor. Dizia:
- Se não é impostor, de louco não escapa!
Ora, esse homem, depois da visita, dirigindo-se para casa, foi encontrado, a meio caminho, por criados que, aflitamente, bradavam:
- Senhor, senhor, depressa, que tua filha foi tomada do demônio!
O pobre homem, chocado, caiu em si. E, agarrando a filha, voltou a se entrevistar com Auxêncio, agora não mais incrédulo, mas dando vivas mostras do mais puro arrependimento.
- Ó Pai, chorava ele, dirigindo-se ao santo homem, perdoa a um pobre pecador, e tem pena do pai aflito!
Auxêncio, embora comovido, não deixou de o repreender e, orando a Deus, livrou-lhe a filha do espírito impuro. E disse:
- Tu, e toda a tua família, tereis de passar uma semana inteira em oração, e no mais rigoroso jejum. Assim foi.
Com as exortações de Auxêncio, muita gente deixou o século, renunciando ao mundo vão. Alguns homens foram ter com ele, pedindo-lhe orientação. As mulheres que iam ouvi-lo, deixavam-no todas no santo afã de abraçar a vida religiosa. E Auxêncio fez com que se lhe erigisse um mosteiro, a pouca distância da montanha.
Nos últimos dias da vida, o santo deixou a cela para ir inspecionar as novas fundações. E, em 470 falecia, depois de ter espalhado sobre a Igreja o clarão da doutrina, da virtude e dos milagres.
(Livro Vida dos Santos, Padre Rohbacher, Volume III, p. 250 `a 252)